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A importância do convívio social para nossa saúde mental

O indivíduo isolado não existe, disse a psicóloga Nelma Aragon, diretora do Instituto de Psicologia Social Pichon-Rivière. Segundo ela, mesmo estando sozinhos, de certa forma estamos na companhia de outras pessoas com as quais já nos encontramos ou convivemos. Afinal, somos uma soma de referências: sejam as que escolhemos guardar e seguir ou não. Por isso, o convívio social é parte de quem somos.

Sem vida social ficamos privados de muitos estímulos como a comunicação, a resiliência em lidar com o diferente, a empatia, o conhecimento de novas situações e possibilidades e, principalmente o vínculo afetivo, que nos traz segurança, conforto e alegria.

Já é conhecido pela ciência que a vida longa e de qualidade é resultado de um mix de fatores como herança genética, hábitos alimentares, nível de atividade física, uso de substâncias debilitantes como cigarro, álcool e drogas, além da adoção de um estilo de vida mais ou menos estressante.

A novidade é que os laços afetivos estão ganhando um importante espaço nesta combinação. Diversos estudos já demonstram que os relacionamentos de boa qualidade contribuem para uma vida longeva e feliz, além de boa saúde mental.

Pesquisas comprovam que o convívio social é importante para a saúde mental

O psiquiatra Diogo Lara, pesquisador de Neurociências da PUC-RS, conduz estudos na área. Um destes estudos classifica os vínculos afetivos em três níveis: os familiares, os relacionados à amizade e os comunitários (vizinhos e outras pessoas da localidade onde se vive).

Segundo ele, o indivíduo até poderia focar em apenas um deste níveis, mas há melhor resultado quando o foco é distribuído nas três frentes. Por isso, é preciso investir nos relacionamentos interpessoais e estar aberto ao diferente. Com a correria da vida moderna, estímulos trazidos pela tecnologia e facilidades que nos tiram da necessidade de relações pessoais, em alguns casos este tipo de investimento ficou em segundo plano dando espaço a outros como a adoção de pets.

A psicóloga canadense Susan Pinker realizou um amplo estudo para publicar seu livro “O efeito aldeia: como o contato presencial pode nos deixar mais saudáveis e felizes”, (em tradução livre), em 2014. Ela viajou a comunidades chamadas “zonas azuis”, que possuem muitas pessoas centenárias vivendo com qualidade. Nestes locais, ela analisou que a população mais jovem valoriza os mais velhos e vive próxima deles. Sendo assim, a psicóloga é uma embaixadora do cultivo ao relacionamento mais íntimo e próximo. “Há milhares de estudos mostrando a importância de fazer exercícios para a longevidade, mas é mais importante não estar sozinho” disse Susan, em entrevista para a Gazeta do Povo (2018).

Uma pesquisa da Universidade de Cambridge, Reino Unido, publicou uma revisão de 148 estudos, após monitorar 308,8 mil voluntários para analisar qual o impacto do convívio social na mortalidade. A conclusão deste estudo foi que as pessoas com laços sociais mais consistentes apresentaram 50% menos chance de ir a óbito, índice tão ou mais relevante do que o impacto do álcool e do fumo na mortalidade. Se pensarmos nos nossos colegas ancestrais lá da época das cavernas, o estudo tem muito fundamento: naquela época só sobreviveríamos em grupo.

Há um importante estudo conduzido na Universidade de Harvard, Estados Unidos, que acompanhou por 75 anos, desde 1938, milhares de voluntários e considerou diversos aspectos de suas vidas. Constatou-se que estavam em melhores condições físicas e psicológicas, na terceira idade, os que mantiveram seus laços de relacionamentos consistentes e com qualidade.

A ciência da felicidade nas relações sociais

Cientificamente dá para explicar a sensação de prazer que temos após encontrar aquele grupo de bons amigos ou nossos familiares. Nosso organismo libera o chamado “hormônio do amor”, a ocitocina, que acalma e dá sensação de bem-estar. Por outro lado, nosso corpo, numa boa situação social libera menos substâncias estressantes, que elevam a pressão e os batimentos cardíacos. Por isso, aquele encontro de amigos é tão prazeroso e curativo.

Isolamento social na pandemia: como fica nosso convívio social?

A situação de isolamento a que estamos submetidos nesta pandemia por COVID-19 está levando muitas pessoas ao stress ou desânimo. Aqueles que possuem predisposição à depressão, pânico e ansiedade estão ainda mais vulneráveis por não terem o escape social.

Dicas para driblar o efeito “quarentena” e amenizar a sensação de estar isolado:

  • Preze pelo bom convívio com aqueles que estão dividindo o isolamento com você. A quarentena pode ser uma ótima oportunidade para melhorar sua relação com o cônjuge, filhos, pais, irmãos ou seja lá quem for que divide o lar contigo. Use palavras respeitosas e gentis. Divida tarefas. Marque programas divertidos, como jogar um jogo de tabuleiro ou baralho, assistir a um filme ou série juntos, compartilhar uma leitura, cozinhar algo juntos etc.;
  • A tecnologia pode ajudar com chamadas de videoconferência regadas a petiscos e bebidas (não precisa ser, necessariamente, alcoólicas). Troquem experiências, dicas, receitas e, importante, deem muita risada;
  • Busque comunidades online com pessoas que se interessem pelos mesmos assuntos que você. O que não falta neste momento são lives com especialistas em diversos assuntos. Muitos destes eventos virtuais acabam em grupos de Whatsapp ou fóruns nos quais os participantes podem trocar ideias e experiências;
  • Se estiver com muita ansiedade ou solidão, busque ajuda online. Muitos psicólogos estão oferecendo consultas gratuitas.

Qualidade das relações: faça sua parte!

As vantagens do convívio social para a saúde só ocorrem se os relacionamentos tiverem qualidade. Muitas pessoas podem pensar: “mas não depende só de mim”. A boa (ou má) notícia é que dependem sim. Ninguém precisa manter um laço social tóxico. Veja como cultivar bons relacionamentos e descartar os ruins:

  • Busque horários para se relacionar com pessoas que te trazem coisas boas: conhecimento, carinho, acolhimento, valor etc. Um almoço, cafezinho ou compartilhar seu trajeto, por exemplo, são boas maneiras de encaixar os bons encontros na rotina;
  • Tenha uma lista de informações sobre as pessoas que são importantes para você, como aniversário, gostos, endereço etc. Busque maneiras de entrar em contato sempre que possível. Não fique esperando que a pessoa te procure. Se ela não te corresponder, naturalmente vá substituindo por outras relações que façam mais sentido;
  • Não vá ao trabalho só para trabalhar. Aproveite o ambiente para se conectar com as pessoas, mesmo aquelas diferentes de você. Não crie “panelinhas”. Conheça a história de outras pessoas, mesmo que pareçam um pouco “estranhas” de início. Você vai se surpreender;
  • Valorize os mais velhinhos da família ou de seu círculo de convívio. Eles têm muitas histórias para contar e muita energia para se relacionar;
  • Ouça mais. Bons ouvintes são muito bem-vindos em qualquer relação;
  • Isso inclui: deixar o celular um pouco para lá. Faça isso dentro de casa também, não apenas com amigos, mas também com familiares;
  • Não se melindre com respostas ou atitudes não muito simpáticas. A pessoa pode estar apenas tendo um dia ruim. Sorria e dê uma nova chance.
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