Languishing: o novo termo para definir o que a pandemia fez com nossa saúde mental
Sabe aquela sensação de estar meio entediado, meio sem esperança, meio deprimido, meio cansado e meio triste? Veja que não é o mesmo que se sentir totalmente aflito, exausto ou depressivo. Estamos falando de estar meio “blá”, como se sua vida toda estivesse se passando em um dia frio, chuvoso e solitário de domingo.
Adam Grant, psicólogo americano e TED talker, publicou uma resenha no jornal americano New York Times em abril de 2021 sobre o termo cunhado pelo sociólogo Corey Keyes que define esta sensação. Languishing significa, em tradução livre, enlanguescer. Esta palavra, que não é muito usada em português, significa enfraquecer, definhar.
Portanto, se seguirmos a análise de Grant e o conceito de Keyes, podemos dizer que a sensação que estamos experimentando individual e coletivamente com a pandemia por Covid-19 é a mesma que definhar. O psicólogo colocou no balaio dos sintomas os problemas de concentração, a falta de perspectiva no horizonte, a pouca vontade em fazer coisas novas, a procrastinação e a confusão cronológica (em que dia estamos?).
“É como se você estivesse confundindo seus dias, olhando para sua vida através de um para-brisa enevoado”, afirmou Grant.
Segundo ele, tal sensação pode ser dominante nos próximos meses. Se no começo da pandemia e distanciamento social, a sensação coletiva era de medo e cautela, tantos meses depois, sem esperança de resolução no curto prazo, as pessoas enfrentam o parcelamento daqueles sentimentos. É como tomar todo dia uma pequena pílula de desânimo.
“Nos primeiros dias incertos da pandemia, é provável que o sistema de detecção de ameaças do seu cérebro – chamado amígdala – estivesse em alerta máximo para lutar ou fugir. Como você aprendeu que as máscaras ajudam a nos proteger – mas a limpeza de pacotes não – você provavelmente desenvolveu rotinas que aliviaram sua sensação de medo. Mas a pandemia se arrastou e o estado agudo de angústia deu lugar a uma condição crônica de definhar”, explicou Grant.
Ele contou que o languishing é como um filho do meio renegado em relação à saúde mental: nem o bem-estar, nem a depressão. É algo que está pela metade. É como usar um entorpecente que reduz a capacidade do organismo em se animar, organizar, concentrar e planejar o futuro.
Grant contou em sua resenha a origem do termo criado por Keyes. O sociólogo teria se surpreendido ao perceber situações de pessoas não deprimidas que também não estavam conseguindo alcançar sua capacidade máxima.
“Parte do perigo é que, quando você está definhando, pode não notar o entorpecimento do deleite ou a diminuição do impulso. Você não se pega escorregando lentamente para a solidão; você é indiferente à sua indiferença”, explicou.
Ele afirmou que na primavera passada, durante a aguda angústia da pandemia, a postagem mais viral da história da Harvard Business Review foi um artigo descrevendo nosso desconforto coletivo como dor. “Junto com a perda de entes queridos, estávamos de luto pela perda da normalidade (…) Embora não tenhamos enfrentado uma pandemia antes, a maioria de nós enfrentou perdas”, relatou Grant.
Primeiros passos para sair do “blá” e cuidar da saúde mental
A falta de visão sobre o próprio sofrimento traz uma inércia. Ninguém busca ajuda se não perceber que precisa dela. Portanto, a recomendação do especialista é: olhos atentos. Se você não está “languishing” deve conhecer alguém que está. A situação requer os mesmos cuidados de outros transtornos psicológicos: acompanhamento profissional (psicólogo ou médico) e familiar, além de esforços em adquirir bons hábitos (exercícios e alimentação nutritiva).
Segundo o psicólogo, dar nome ao que estamos sentindo é o primeiro passo. Analisar os sintomas e lembrar que não estamos sozinhos também são atitudes que fazem parte da melhora no quadro.
“Para transcender o enfraquecimento, tente começar com pequenas vitórias (…) Isso significa reservar um tempo diário para se concentrar em um desafio que é importante para você – um projeto interessante, uma meta que vale a pena, uma conversa significativa. Às vezes, é um pequeno passo para redescobrir um pouco da energia e do entusiasmo que você perdeu durante todos esses meses”, ensinou Grant.
Segundo ele, o languishing não está apenas em nossas cabeças. Ele está nas circunstâncias, portanto não é possível curar tudo sozinho. Afinal, vivemos em um mundo no qual é fácil falar de saúde física, mas quando o assunto é saúde mental, diversos estigmas vêm à tona. Estar “blá” não é estar em depressão, porém é algo a se cuidar. Reconhecer é a primeira ação.