Raciocínio afetado, memória enfraquecida, queda de cabelo, alergias, cansaço, falta de ar e até sintomas não muito fáceis de explicar, como picos de ansiedade ou sinais de depressão. Todos eles são queixas de pacientes que contraíram a covid-19 e se curaram, porém ainda carregam sintomas. O quadro já está sendo chamado de “síndrome pós-covid”, “covid-19 pós-aguda” ou “covid-19 crônica”.
Pelo fato de a covid-19 ainda ser nova, a ciência descobre pouco a pouco novas nuances da doença. Quando se fala de efeitos no médio e longo prazo, então, fica ainda mais difícil obter conclusões esclarecidas. Há alguns estudos em andamento, como a análise conduzida pelo Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP) e divulgado pelo portal UOL – Viva Bem. O estudo diz que 60% dos pacientes que contraíram covid-10 apresentaram algum tipo de sequela em até um ano após se curar da doença.
As situações mais comuns são as que dizem respeito aos pulmões. Por serem os órgãos mais afetados pela covid-19, eles podem permanecer enfraquecidos mesmo depois de a doença ser considerada curada. O mais curioso é que o quadro pode ter sido grave ou não. Ainda não há conclusões sobre qual condição, definitivamente, desencadearia um quadro de sequela.
O que já se sabe é que o prolongamento dos sintomas pode se dar em, basicamente, três circunstâncias:
1) Um deles é o prolongamento de alguns sintomas que foram desencadeados com a própria doença, por exemplo:
• Cansaço exagerado
• Falta de ar
• Perda de paladar ou olfato
• Dores de cabeça ou corporais
• Transtornos psicológicos como ansiedade e depressão
• Déficit de memória e concentração.
2) Outro quadro é quando há o desencadeamento de sintomas após internação, exemplo:
• Incontinência urinária;
• Fraqueza muscular;
• Desânimo para retomar a rotina, as atividades físicas e o cuidado com o corpo e mente.
3) Há ainda o agravamento de doenças crônicas preexistentes:
• Insuficiência cardíaca, renal ou pulmonar;
• Diabetes
• Hipertensão
• Síndrome do pânico
Para amenizar a síndrome pós-covid, a reabilitação após a doença tornou-se algo mais comum no Brasil e em outros países. A reabilitação pode incluir cuidados a partir de diversos tipos de especialidades, dependendo do sintoma persistente.
Como saber se estou com sintomas persistentes pós-covid?
Apesar da falta de conclusões sobre o tema, alguns sinais podem ser observados e testes podem ser feitos para diagnosticar alguma situação fora da recuperação esperada do paciente.
Sintomas respiratórios: quando o paciente continua com cansaço incapacitante, é interessante realizar testes físicos para averiguar se o condicionamento está muito abaixo do que estava antes de contrair a covid-19. Exames de imagem e oximetria de pulso também podem acusar a persistência de doenças pulmonares.
Sintomas hematológicos: há ocorrência de estados hiperinflamatórios e de hipercoagulabilidade por parte dos pacientes com covid-19, além de eventuais quadros de tromboembolia. É necessário acompanhamento médico e exames recorrentes para avaliar o quadro clínico e possíveis riscos mesmo após a liberação hospitalar.
Sintomas cardiológicos: dispneia e dor torácica aumentam a demanda metabólica dos pacientes com covid-19, podendo ocasionar quadro de arritmia. Exames como ecocardiografia, eletrocardiografia e avaliação clínica de cardiologista são necessários para prevenir riscos.
Sintomas neurológicos: aqui estão os sintomas mais recorrentes em pacientes que tiveram quadros agravados de covid-19, principalmente envolvendo internação. São eles: cansaço, dores de cabeça, esquecimento e confusão mental, além de transtornos como ansiedade e depressão. Nestes casos, é necessária avaliação neuropsiquiátrica e acompanhamento de outros profissionais, como um psicólogo.
Sintomas dermatológicos: outra queixa comum aos pacientes pós-covid está nas questões relacionadas à pele. Alergias, queda de cabelo e alterações cutâneas nunca antes percebidas pelo corpo são as mais recorrentes. Neste caso, avaliação do dermatologista e acompanhamento nutricional é essencial para o bem-estar do paciente e para evitar o agravamento de problemas.
O que se tem em consenso nas pesquisas e na comunidade científica é que a covid-19 é uma doença que traz uma complexidade de fatores que ainda não são 100% previsíveis. É necessário, portanto, ao observar qualquer sintoma não esperado, que seja realizada uma avaliação multidisciplinar, com foco no bem-estar do paciente recuperado da doença.