Nossa relação com o dinheiro: uma análise e um guia inicial para a saúde financeira
A educação financeira não é um fator priorizado nas famílias brasileiras. Nosso País aparece em 74º lugar no ranking global de educação financeira da Standard & Poor’s (S&P Ratings Services Global Financial Literacy Survey), que classifica a relevância que este fator recebe em 144 países. A lista mostra o Brasil atrás de países até menos desenvolvidos como Madagascar, Togo e Zimbábue. A falta de interesse na disseminação do assunto reflete na saúde financeira da população. No Brasil, o percentual de dívida das famílias em relação à renda chegou a 72,6% em julho de 2021 (no mesmo mês em 2020, eram 69%) entre aqueles com menores rendas. Na média, o percentual do comprometimento da renda com dívidas está em 30,5%, o maior índice desde 2017. Os dados são da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).
Cultura de escassez
Educação financeira é entendida, muitas vezes, como corte de gastos. Afinal, quando se fala em dinheiro, na maioria dos casos, dentro do Brasil, já se pensa em “falta”. A cultura de escassez traz o pensamento de que sempre falta dinheiro. Tal efeito é aumentado pela cultura do consumo que faz com que, a todo momento, a população seja incentivada a consumir e novas “necessidades” surgem nas famílias. O problema é que tais necessidades não existiam antes e, muitas vezes, são supérfluos que acabam sendo adquiridos de maneira mal planejada.
Claro que a questão cultural não é a única culpada pela relação problemática da população com o dinheiro. Conjunturas socioeconômicas levaram as famílias a construir um modelo mental passado de geração para geração. Várias trocas de moedas em poucas décadas e inflação descontrolada no passado trouxeram situações de insegurança às gerações passadas, que repassaram às gerações hoje em idade produtiva. Estas, por sua vez, estão educando crianças e jovens para pensarem da mesma forma no futuro. Nas últimas décadas o Brasil experimentou maior estabilidade, o que deu um pouco de espaço para outros modelos mentais surgirem a respeito de finanças, porém o recente contexto da pandemia trouxe um quadro de novas incertezas e, com elas, a cultura de escassez aumentando.
Mas do que trata a educação financeira e como ela pode ajudar em momentos de crise?
Ser educado financeiramente é mais do que saber economizar. É, em primeiro lugar, “fazer as pazes” com o dinheiro. Quando estamos de bem com alguém, queremos falar com aquela pessoa e passar mais tempo com ela, não é? É assim que ocorre com o dinheiro. Quando o assunto “finanças” não desagrada, queremos falar sobre isso, estudar e fazer planos consistentes. Portanto este é o primeiro passo para a saúde financeira.
Também é necessário compreender o papel do dinheiro na sua vida e na de sua família. O dinheiro bem administrado pode garantir bem-estar e segurança para o futuro. Por isso, é contraproducente gastar um dinheiro que ainda não existe, acumulando dívidas e trazendo mais dificuldades para o futuro. Quando falamos em saúde financeira, falamos também de saúde mental e física. Os problemas financeiros podem gerar diversos tipos de situações complicadas como stress, brigas e até mesmo doenças.
Sendo assim, veja como você pode melhorar sua saúde financeira desde já:
- Faça as pazes com o dinheiro: pense, fale e estude sobre finanças com entusiasmo;
- Gaste menos do que ganha: é a regra de ouro. Não tem como ser diferente!
- Evite dívidas a todo custo: principalmente enquanto ainda está estudando e planejando. Existem dívidas (como financiamentos) que podem trazer retornos, porém se você não tem clareza de como elas se desdobrarão no futuro, evite-as!
- Livre-se das dívidas já existentes: faça contas, negocie, junte dinheiro para quitar, refinancie com juros menores etc.
- Busque outras fontes de renda: se estiver ganhando muito pouco, pense em como usar mais algumas horas para complementar renda. É necessário descansar e passar tempo livre com as pessoas de que você gosta. Porém, em tempos de crise, é preciso contingência!
- Pense muito bem antes de comprar qualquer item que não seja primordial: quer comprar uma roupa? Passar o fim de semana na praia? Pense bem antes e avalie se é necessário naquele momento. Se a vontade passar, é porque não era tão necessário assim.
Com este passo a passo, você já começa a ter uma vida financeira mais equilibrada e pode estudar meios de fazer seu dinheiro guardado render. Ao pensar em aplicações, investimentos e outras “oportunidades”, estude muito e não acredite em ganhar dinheiro fácil. Ao mesmo tempo, tire da cabeça que tudo é um sacrifício. A conta é simples: ninguém dá dinheiro para ninguém. Mas quem tem dinheiro sempre poderá “emprestá-lo”, ou seja, se você conseguiu guardar, poderá “emprestar” seu dinheiro ao governo ou ao banco e ganhar juros (com títulos do Tesouro, CDBs e outras aplicações).
Em momentos de crise, como o atual, é preciso avaliar junto à família, todas as oportunidades de encaixar os gastos dentro da renda de maneira planejada, evitando dívidas e fazendo sobrar aquela poupança. Esta sobra poderá ser destinada à reserva de emergência e planos futuros como aposentadoria complementar, viagens ou aquisições. Envolver os mais jovens é essencial para disseminar a educação financeira dentro do lar.
Nunca é tarde! Organize suas finanças e tenha uma vida mais equilibrada e saudável, física e mentalmente.