Dia Nacional da Consciência Negra: qual história esta data conta?

Dia Nacional da Consciência Negra: qual história esta data conta?

Em 20 de novembro, o Brasil relembra uma importante história de luta e resistência, que desenhou nossa cultura e marcou nossa sociedade. O Dia Nacional da Consciência Negra também é o Dia de Zumbi, líder do Quilombo dos Palmares, localizado nas fronteiras de Alagoas e Pernambuco e conhecido como símbolo de resistência à escravidão. O dia foi constitucionalizado pela Lei nº 12.519, em 10 de novembro de 2011.

A história de Zumbi e do Quilombo dos Palmares

Zumbi dos Palmares é uma figura utilizada pelo movimento negro como simbologia para as reivindicações e conquistas. Porém, não é simples descrever a vida e luta de Zumbi. Há poucas fontes oficiais informando a respeito da trajetória deste homem. Sabe-se que Zumbi nasceu no Quilombo dos Palmares, o maior existente no Brasil, e que ele veio a liderar o movimento negro naquela comunidade.

A versão do jornalista chamado Décio Freitas é aceita por muitos historiadores e conta que Zumbi foi sequestrado do quilombo quando criança e recebeu a criação de um padre. Ao se tornar um jovem, Zumbi fugiu e voltou à sua origem, tornando-se um líder e defensor do quilombo, frente aos bandeirantes.

Zumbi teria sido morto em ação de resistência em 1695, no dia 20 de novembro, e por isso, a instituição da data.

O que são quilombos? Eles ainda existem?

Os quilombos surgiram quando se formaram comunidades de pessoas negras que fugiam da escravidão. Acredita-se que os quilombos sumiram com o fim da escravatura, porém eles ainda existem. São diversas comunidades chamadas quilombolas em vários estados brasileiros. O Ministério da Cultura mapeou, em 2019, 3.524 comunidades e o total de quase 5 mil moradores.

Por terem sido criados em regiões remotas a grandes centros, devido à necessidade de fuga, estes locais estão distribuídos hoje como aldeias na mata ou em montanhas. Seus moradores mantêm uma economia local, praticamente de subsistência, porém com algumas iniciativas de comércio.

O isolamento dificulta a troca de informações e conhecimento da população em relação ao cenário atual dos quilombos. Além disto, traz barreiras para o compartilhamento econômico. Por outro lado, ajudou a preservar a cultura e tradição destes povos, assunto este alvo de preocupação em relação ao respeito e preservação.

Para que serve o Dia da Consciência Negra?

A data traz uma mensagem além da homenagem à figura de Zumbi dos Palmares e tudo o que ela representa. Esta efeméride tornou-se mais significativa que o dia 13 de maio, data de abolição da escravatura. O fim da escravidão representaria uma falsa liberdade, uma vez que os negros, até então escravos, foram jogados às margens da sociedade, sem assistência ou qualquer iniciativa de reinserção.

Por isso, a data ressalta a necessidade de refletir sobre o racismo estrutural no Brasil e sobre as ferramentas de correção histórica. Afinal, a luta dos negros atualmente, pode não ser como a luta da época de Zumbi, porém traz complexidades que, muitas vezes, não são compreendidas em uma sociedade tão complexa.

A reflexão acerca do tema traz à tona duas questões primordiais: o racismo e a desigualdade em nosso país. Dados do IBGE (2019) apontam que a população brasileira é composta em 56% por pessoas negras ou pardas. Porém, na fatia dos mais ricos, estes representam somente 17,8% e, entre os mais pobres, são 75%.

Além da desigualdade econômica, o racismo estrutural impacta o mercado de trabalho, a liberdade religiosa e está presente no conceito de beleza e até mesmo no vocabulário popular. Expressões como “cabelo ruim” referindo-se a cabelos crespos é um exemplo. Trata-se de um padrão que requer cabelos lisos como “bem alinhados e bonitos” e que entende que a estrutura do cabelo crespo é “mal arrumada ou feia”. Religiões de raízes africanas também são alvo de preconceitos e, inclusive, perseguidas.

O Dia da Consciência Negra representa uma ótima data para se informar, conscientizar e tomar posição por um país mais justo, sem preconceitos e com oportunidades iguais para todos.

Barbara Valsezia