Muitas atividades foram afetadas pelo isolamento social determinado pelo Ministério da Saúde como medida para o combate à propagação da COVID-19. Sendo assim, o governo tomou medidas para evitar aglomerações em diversos locais e isso inclui consultórios, centros médicos e hospitais. Neste contexto, o Conselho Federal de Medicina (CFM) reconheceu, de maneira excepcional, a prática de telemedicina no Brasil, enquanto durar a situação emergencial na qual nos encontramos.
Telemedicina é exercer a medicina à distância. Nesta modalidade o médico utiliza telefone, meios de tele ou videoconferência ou troca de mensagens para realizar o atendimento médico. Trata-se de um instrumento de apoio diagnóstico e de orientação ao paciente, que pode estar impossibilitado ou não recomendado a ir presencialmente ao médico por inúmeros motivos.
Em grandes centros, não é apenas o risco de infecção por COVID-19 que atrapalha a ida à consulta médica. O trânsito, a distância e a correria do dia a dia também tornam o atendimento à distância interessante.
Como funciona a telemedicina no mundo…
Em países mais desenvolvidos, a telemedicina já é utilizada, principalmente em locais distantes de grandes centros, como pequenos vilarejos ou cidades menores. Atualmente, os pacientes de doenças crônicas ou grupos de risco, como idosos, podem contar com dispositivos em suas casas para monitorar frequência cardíaca, pressão arterial e glicose no sangue, por exemplo.
Até mesmo a cirurgia à distância já é uma realidade em alguns países. No Canadá, há casos de cirurgias feitas por robôs controlados à distância por médicos para retirar vesículas, apêndices e corrigir hérnias. A área dermatológica pode contar com um scanner fotográfico baseado em inteligência artificial para detectar manchas e sinais de pele que devem ser investigados. Outras áreas, como oftalmologia e radiologia já se aproveitam da troca virtual de imagens dos pacientes para precisos diagnósticos analisados à distância.
Nos Estados Unidos, quando identificada a primeira pessoa com o novo Coronavírus, diante dos riscos de transmissão, foi utilizada uma espécie de telemedicina ainda não tão acessível. O paciente foi assistido por um tipo de robô, que monitorava seus sinais vitais e permitia a comunicação com a equipe médica.
Já nos países em desenvolvimento, a telemedicina encontra muitos desafios na área da saúde, o que traz a oportunidade de ampliar o acesso a serviços médicos especializados e a redução do tempo entre diagnóstico e início do tratamento. Deve-se considerar também a redução de custos e o apoio ao monitoramento e rastreamento epidemiológico.
… e no Brasil
O Brasil, por seu tamanho e geografia, muitas vezes sem recursos médicos adequados à população, oferece um amplo campo de atuação para a telemedicina. Ou seja, mesmo fora do contexto de pandemia, nosso país poderia beneficiar-se da modalidade. Mas quais são os empecilhos enfrentados para a liberação definitiva da telemedicina?
Primeiro é importante saber que, mesmo fora do Brasil, ainda há poucos estudos e referências sobre este tipo de atendimento, para que ele possa ser sistematizado e regulamentado. Em 2019, Conselho Federal de Medicina (CFM) já havia buscado caminhos para regulamentar a telemedicina no Brasil, mas o fato gerou desacordo entre grupos de profissionais da saúde.
Um dos argumentos é o receio de que o atendimento remoto enfraqueça a relação do médico e do paciente, resultando em uma consulta deveras mecânica. Há o meio termo: quem defenda que a telemedicina seria mais útil se atuasse de maneira complementar. Seguindo este raciocínio, a proposta de 2019 trazia a possibilidade de continuar o atendimento após uma consulta presencial, monitorando o pós-consulta, como em um retorno médico.
O poder público não está totalmente alinhado para propor regulamentação do modelo ou, até mesmo, investimento em tecnologia na rede pública de saúde para que os mais vulneráveis possam se aproveitar dos benefícios da telemedicina.
Na prática, como está funcionando a telemedicina no Brasil?
Segundo a Portaria 467/2020 do Ministério da Saúde, a telemedicina foi validada durante o período de Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional, ou seja, a liberação é válida durante a crise pelo novo Coronavírus.
Os médicos estão liberados para atendimentos remotos “pré-clínico, de suporte assistencial, de consulta, monitoramento e diagnóstico”, tanto na saúde pública como na saúde privada. A exigência é que o documento (receita médica, atestado, diagnóstico) contenha assinatura eletrônica com certificação digital segundo o órgão de Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira (ICP-Brasil).
A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) determina que o paciente pode optar por ser atendido remotamente e, neste caso, deve verificar com seu plano de saúde qual o procedimento e meio escolhido para as consultas.
A operadora poderá apontar um profissional ou estabelecimento habilitado neste tipo de atendimento e credenciado em sua rede, pois os profissionais de medicina e centros médicos não possuem a obrigação de atender remotamente. Somente a operadora deve ter alguma opção de telemedicina em sua rede.
Em qualquer caso, a ANS alerta para a segurança do meio escolhido para trocar informações pessoais dos pacientes. Fique sempre de olho no canal utilizado pelo seu médico e tenha cuidado com mensagens falsas, spam e golpes virtuais.
Veja aqui as dicas para se proteger de ataques virtuais
No Sistema Único de Saúde (SUS) também há opções de consultas remotas e o Ministério da Saúde já divulgou que, com isso, haverá ampliação do atendimento, evitando a exposição da população ao contágio por doenças infecciosas nas unidades de saúde.
Como as operadoras de saúde suplementar estão disponibilizando a telemedicina
Diversas operadoras de saúde suplementar disponibilizaram ferramentas e orientam sua rede credenciada e beneficiários sobre como utilizar melhor os recursos de telemedicina.
Conheça as ferramentas de algumas operadoras e suas orientações:
A Amil oferece os canais de telemedicina sem agendamento 24 horas por dia.
A SulAmérica mantém o programa “Médico na Tela” desde 2019 com ampliação dos serviços neste momento de pandemia.
O Bradesco disponibilizou uma série de informações e recursos em um portal público, além de canais de telemedicina para seus beneficiários.
A Unimed disponibiliza o Unimed Fone e outras informações em seu portal de telemedicina, trazendo, inclusive, a legislação vigente cobre a modalidade.
O Grupo Notre Dame Intermédica oferece recursos de telemedicina na área logada ao beneficiário.
Com o advento e popularização da modalidade de telemedicina, surgem diversos recursos que podem ser usados para melhorar a interação entre médico e paciente, inclusive gratuitos. Veja dois exemplos:
- A plataforma iMedicina oferece gratuitamente salas virtuais para consulta, recursos para envio de exames e possibilidade de agendamento.
- A Emed é uma plataforma paga que oferece um sistema de gestão para médicos, com prontuário eletrônico, agendamento e gestão financeira.
Na saúde pública, há o TeleSUS, que oferece orientações iniciais para pessoas com suspeita de COVID-19. Os canais são telefone, chat, aplicativo ou Whatsapp. Segundo o Ministério da Saúde, está previsto o lançamento de uma plataforma para consultas online.
Telemedicina: o que podemos esperar?
A conclusão é que, mesmo com uma crescente inclusão digital da população e com tecnologias inimagináveis há poucos anos, a medicina nos países em desenvolvimento não avançou muito em termos de meios de comunicação e modelos de atendimento. Há alguma novidade em startups do ramo da saúde, que popularizam o atendimento médico, oferecendo consultas a preços fixos mais baixos que os de mercado e agendamento virtual. Mas, em termos de consultório médico em si, pouca coisa mudou.
Mais de 1,6 milhão de pessoas em países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento morrem por ano devido à dificuldade no acesso a médicos. É o que diz uma pesquisa da conduzido pela Comissão de Saúde Global de Alta Qualidade, financiada pela Fundação Bill e Melina Gates.
Certamente a popularização da telemedicina poderá proporcionar a atenção médica em locais carentes e distantes dos grandes centros, que possuem ampla rede médica. Apesar do desafio sobre o alinhamento entre poder público e sociedade, podemos esperar novas diretrizes sobre a implantação definitiva e regulamentação da telemedicina no Brasil.