Setembro Verde: campanha pela doação de órgãos
Informar e conscientizar a população sobre a doação de órgãos é a ação mais poderosa para aumentar o número de doadores e apoiar a recuperação das pessoas que estão na fila de espera por um transplante.
Para marcar a importância do tema, o Dia Nacional de Doação de Órgãos e Tecidos é lembrado em 27 de setembro. Idealizada pela Associação Brasileira de Transplante de Órgão (ABTO) a data é reforçada pela campanha Setembro Verde, que dá visibilidade à causa informando a população e incentivando os indivíduos a manifestarem a intenção de serem doadores para seus familiares. A desinformação e a recusa familiar são os principais obstáculos da doação de órgãos hoje.
A cor verde simboliza a esperança e foi a escolhida para trazer à tona a reflexão sobre a importância deste gesto de solidariedade. O tema é urgente especialmente nesse momento de pandemia, situação que reduziu significativamente a quantidade de doação de órgãos em todo o país.
Panorama de doação de órgãos no Brasil
O procedimento de retirada dos órgãos tem cobertura do Sistema Único de Saúde (SUS). Apesar disso e das campanhas de conscientização, as filas de espera ainda são longas devido ao índice de doações ser bem inferior à demanda.
De acordo com o Registro Brasileiro de Transplantes e Estatísticas de Transplantes somente no primeiro trimestre de 2019, 7.974 pacientes ingressaram na lista de espera por doação de órgão. Desse total, 806 faleceram aguardando.
Em 2020 o cenário começou bem promissor. Segundo informações ABTO os meses de janeiro e fevereiro registram um número de doadores acima do registrado no mesmo período do ano anterior.
Entretanto com o começo da pandemia no Brasil, a partir de março as doações despencaram e a situação se inverteu. No segundo trimestre deste ano os transplantes de órgãos diminuíram quase 41% em relação ao mesmo período em 2019.
Com ou sem pandemia o cenário de doação de órgãos no Brasil é complexo e precisa muito ser incentivado. Há muito trabalho sendo realizado dentro do assunto, beneficiando várias pessoas que necessitam de um novo órgão para seguir em frente com uma boa saúde. Veja histórias de famílias que disseram sim para a doação de órgãos.
Principais desafios para a doação de órgãos
Em nossa cultura ainda é muito difícil falar e lidar com a morte. Talvez essa seja uma das razões que mais dificultam a conscientização sobre doação de órgãos.
Dizer “sim” para a doação logo após a perda de um ente querido é complicado e doloroso para algumas famílias. Não é à toa que a negativa familiar é um dos principais entraves que faz com que a lista de doadores seja menor que a demanda.
De acordo com dados divulgados pela ABTO, a rejeição familiar em fazer a doação é em torno de 43% no Brasil, acima da média mundial que é de 25%. No primeiro trimestre de 2019 o Registro Brasileiro de Transplantes e Estatísticas de Transplantes notificou 2.722 doadores potenciais. Das 1.588 entrevistas realizadas com as famílias, 621 delas recusaram a doação, uma porcentagem que aponta 39% de recusa.
Além da dor no momento do luto, as crenças religiosas, o medo de deformação no corpo do falecido e a falta de conhecimento sobre o assunto são outros pontos que dificultam a aceitação familiar.
O baixo tempo de isquemia de cada órgão – ou seja, o período viável para retirada de um órgão e a implantação em outra pessoa – é um gargalo. Veja o tempo de isquemia de cada órgão:
- Coração: 4 horas
- Rim: 48 horas
- Fígado: 12 horas
- Pulmão: 4 a 6 horas
- Pâncreas: 12 horas
Como os períodos são curtos é preciso a mobilização de uma série de serviços para que as doações e os transplantes sejam realizados com sucesso. Dessa forma a Força Aérea Brasileira, bem como as companhias aéreas comerciais têm papel importante na viabilização das entregas dos órgãos dentro dos prazos adequados.
As principais perguntas e respostas sobre doação de órgão
- O que precisa para ser um doador?
É necessário informar a sua família sobre o desejo de se tornar um doador de órgão voluntário após a morte. Não é necessário registrar nenhum documento. Somente a autorização da família é o suficiente.
- A morte encefálica é um diagnóstico certo?
Sim. O diagnóstico é dado após exames clínicos realizados por dois médicos diferentes conforme regulamentação do Conselho Federal de Medicina, além de um exame complementar (metabólico, gráfico ou de imagem).
- Quem pode ser doador e quais órgãos e tecidos podem ser doados
Existem dois tipos de doadores: indivíduos vivos ou falecidos.
Doador vivo é toda pessoa saudável e capaz (perante a lei) que concorde com o procedimento, desde que esteja apta a realizar a doação sem prejudicar a própria saúde. Nesse caso podem ser doados: parte do fígado ou dos pulmões, um dos rins e medula óssea.
Doador falecido por morte encefálica pode doar rins, fígado, pâncreas, pulmões, intestino delgado, coração e tecidos. Falecimento por parada cardíaca por exemplo, geralmente permite a doação de tecidos, como pele, córneas, vasos sanguíneos, tendões, ossos etc. Dessa forma um único doador pode salvar várias vidas.
- Para quem vão os órgãos?
Doadores vivos podem identificar para quem desejam doar o órgão. Entretanto em caso de morte, não é possível escolher o receptor. Existe uma lista de espera unificada e informatizada dos pacientes à espera de doações de órgãos. Cabe à Central Estadual de Transplantes identificar por meio desse sistema os receptores compatíveis com o doador.
- Após a doação, o corpo do doador fica deformado?
Não. Após a retirada dos órgãos os médicos realizam a recomposição do corpo do doador que pode ser velado normalmente. Quando ocorre doação de osso e córnea são colocadas próteses no lugar. Quando a doação é de pele, são feitos cortes nas costas. Em caso de doação de órgãos internos as incisões são pequenas.
Importância das ações da campanha Setembro Verde
A mobilização para fornecer dados e esclarecimentos sobre o tema permite alcançar um número maior de pessoas, contribuindo para melhorar o cenário de doações de órgãos no Brasil.
A soma de esforços na busca por conscientização gera uma série de benefícios, aumentando as perspectivas para as pessoas que estão na fila de espera por um órgão.
Vale reforçar que segundo a legislação brasileira, a doação de órgãos só pode ser realizada após autorização de um parente de primeiro ou segundo grau (como pai ou mãe, filhos, avós, netos ou cônjuges).
Portanto se você deseja ser um doador de órgão, não se esqueça de comunicar à sua família e reforçar a importância dessa permissão após a sua morte.