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Redes sociais e isolamento da pandemia: como fica nossa saúde mental?

Ela chegou sem aviso e, de maneira avassaladora ou aos poucos, a pandemia da Covid-19 abalou a saúde mental de pessoas de todas as idades, em diferentes graus e aspectos. Em menor ou maior rigor, as famílias se fecharam em suas casas. Uma das questões foi o aumento de uso das redes sociais, que se tornaram rota de fuga.

Ainda não há dados comparativos definitivos sobre qual parcela da população foi mais afetada, mas não há dúvidas de que as crianças e os jovens tiveram grande impacto em sua vida social. Afinal, o principal local onde os mais novos se sociabilizavam é no ambiente escolar. Com aulas remotas, impossibilidade ou redução de visitas de familiares e amigos, além da falta de eventos e locais para encontrar pessoas da mesma idade, o convívio com o outro passou a ser ínfimo ou nulo para esta parcela da população.

Para amenizar a falta dos amigos, a comunicação, que já era mista, tornou-se 100% virtual. Avessos à comunicação via telefone ou videoconferência, foi nas redes sociais que o jovem encontrou sua maneira de ver o mundo acontecer lá fora e de se comunicar.

Redes sociais: escape de muitas pessoas

As redes sociais são ferramentas que fazem parte de praticamente toda a geração viva no ano de 2021. Afinal, mesmo as avós e avôs já possuem seus perfis no Facebook, Instagram e até mesmo um canal no YouTube. Na outra ponta, os mais jovens gostam de frequentar outra “balada”: aplicativos como Tik Tok e Twitch são os mais utilizados.

Para qualquer uma das gerações, é nas redes sociais que nos distraímos, compramos, vemos o que ocorre com a vida alheia, compartilhamos opiniões e informações, celebramos os aniversários e os bons momentos ou enviamos nossos sentimentos pelo luto.

A expansão das redes sociais na pandemia

De um lado o uso aumenta, de outro lado, o lucro. As notícias listadas abaixo, veiculadas pelo site e revista Exame, mostram a expansão e novas funcionalidades das principais redes sociais nos últimos meses.

  • Exame (21/1/2021): Facebook atinge valor de 28 bilhões de dólares em 2020, no último trimestre;
  • Exame (29/7/2020): TikTok foi avaliado em 50 bilhões de dólares por investidores;
  • Exame (31/3/2021): A nova funcionalidade do Whatsapp: pagamentos;
  • Exame (01/6/2021): Usuários podem escolher se mostram ou não o número de likes no Instagram.

Com o aumento de usuários, as redes foram oferecendo mais funcionalidades. Por outro lado, a saúde mental da população se deteriorou com a pandemia. A BBC News (matéria de abril de 2021) noticiou uma pesquisa feita pelo Instituto Ipsos (Ipsos) que diz que 53% dos brasileiros relataram que sua saúde mental piorou em diferentes graus.

Em um quadro de saúde mental abalada, o estímulo das redes sociais pode ser viciante para o indivíduo. É como estar em um restaurante almoçando e recebendo mais alimento, mesmo que a pessoa já esteja com a fome saciada. A pessoa que está ansiosa vai querer mais, pois quer mais estímulo. Para os mais jovens, a vida online mostra-se ilimitada, ao contrário da vida real. O uso da tela não traz dificuldades: é mais “fácil” do que o convívio pessoal.

Como vencer o vício do uso de rede social

Quem nunca se pegou após uns 40 minutos rolando a tela do celular e pensou: “eu não gostaria de ter passado tanto tempo aqui”. Não recebemos curso preparatório para enfrentar uma situação como a que estamos vivendo. Porém, algumas dicas e atenção com os hábitos podem ajudar a equilibrar o uso das telas.

Para os adultos monitorarem a si mesmos

  1. Identifique os horários de maior gatilho para entrar nas redes sociais e troque o hábito. Por exemplo: se você usa redes em filas, carregue um livro de bolso ou tenha no seu dispositivo algo interessante para ler; se você usa redes sociais ao acordar, troque o hábito por um alongamento, meditação ou atividade de sua casa;
  2. Determine algum horário do dia em que você tenha limite de tempo para usar a rede social, por exemplo: 15 minutos antes de um compromisso agendado;
  3. Determine faixas do dia para não usar o smartphone, por exemplo: após as 20h;
  4. Se fizer sentido uma medida mais radical, deixe o perfil de algumas redes inativo por um tempo;
  5. Não use as redes sociais para se informar diariamente. Prefira assinar uma newsletter em seu e-mail (a maioria é gratuita) dos sites de sua preferência;
  6. Use a agenda de seu smartphone para lembrar de aniversários e não apenas a rede social. Se possível, ligue ao aniversariante. Ele ou ela irá gostar!

Para adultos que precisam orientar crianças e jovens
Os afetadinhos da pandemia podem se render aos tablets e jogos, que pode deixá-los ansiosos, agressivos, sem apetite e entediados. É aí que entra a necessidade do diálogo e orientação dos pais ou adultos responsáveis.

Os mais afetados da pandemia podem se render aos tablets e jogos, que pode deixá-los ansiosos, agressivos, sem apetite e entediados. É aí que entra a necessidade do diálogo e orientação dos pais ou adultos responsáveis. Se para os adultos, a rotina ajuda a ter um dia a dia mais saudável, para crianças e jovens esta necessidade é ainda maior.

  • Estabeleça rotinas para atividades, mesmo que dentro de casa e até para os menores;
  • Defina limites de uso de tela de acordo com a faixa etária. O Observatório da criança e do adolescente, projeto do curso de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), divulgou uma sugestão de horário para uso de telas segundo especialistas:
  1. Crianças menores de 2 anos: não deve ser usado;
  2. Crianças entre 2 e 5 anos: até 1 hora por dia;
  3. Crianças entre 6 e 10 anos: até 2 horas por dia;
  4. Adolescentes entre 11 e 18 anos: até 3 horas por dia, nunca “virar a noite”;
  5. Todas as faixas etárias: nada de telas durante as refeições e desconectar 1 a 2 horas antes de dormir.
  • Conversar constantemente com as crianças e jovens estimulando-os a compartilhar seus sentimentos e emoções, sem julgá-los;
  • Evite dar “horas de tela” como prêmio e “tirá-las” como castigo. Isso faz com que a criança e o jovem valorizem ainda mais o tempo no aparelho. O ideal é tornar esse momento parte da rotina;
  • Valorize e crie momentos de diversão “offline” como jogos de tabuleiro, leitura, oficinas em família (arte, culinária, conserto de móveis), passeios ao ar livre (com protocolo de segurança) etc.
  • Dê o exemplo! Esta é a dica mais importante, visto que de nada adiantará colocar horários de tela para os mais novos se os adultos da casa estão com o celular a todo momento na mão.
  • Dê o exemplo! Esta é a dica mais importante, visto que de nada adiantará impor um limite para os mais novos se os adultos da casa estão com o celular a todo momento na mão.
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Languishing: o novo termo para definir o que a pandemia fez com nossa saúde mental

Sabe aquela sensação de estar meio entediado, meio sem esperança, meio deprimido, meio cansado e meio triste? Veja que não é o mesmo que se sentir totalmente aflito, exausto ou depressivo. Estamos falando de estar meio “blá”, como se sua vida toda estivesse se passando em um dia frio, chuvoso e solitário de domingo.

Adam Grant, psicólogo americano e TED talker, publicou uma resenha no jornal americano New York Times em abril de 2021 sobre o termo cunhado pelo sociólogo Corey Keyes que define esta sensação. Languishing significa, em tradução livre, enlanguescer. Esta palavra, que não é muito usada em português, significa enfraquecer, definhar.

Portanto, se seguirmos a análise de Grant e o conceito de Keyes, podemos dizer que a sensação que estamos experimentando individual e coletivamente com a pandemia por Covid-19 é a mesma que definhar. O psicólogo colocou no balaio dos sintomas os problemas de concentração, a falta de perspectiva no horizonte, a pouca vontade em fazer coisas novas, a procrastinação e a confusão cronológica (em que dia estamos?).

“É como se você estivesse confundindo seus dias, olhando para sua vida através de um para-brisa enevoado”, afirmou Grant.

Segundo ele, tal sensação pode ser dominante nos próximos meses. Se no começo da pandemia e distanciamento social, a sensação coletiva era de medo e cautela, tantos meses depois, sem esperança de resolução no curto prazo, as pessoas enfrentam o parcelamento daqueles sentimentos. É como tomar todo dia uma pequena pílula de desânimo.

“Nos primeiros dias incertos da pandemia, é provável que o sistema de detecção de ameaças do seu cérebro – chamado amígdala – estivesse em alerta máximo para lutar ou fugir. Como você aprendeu que as máscaras ajudam a nos proteger – mas a limpeza de pacotes não – você provavelmente desenvolveu rotinas que aliviaram sua sensação de medo. Mas a pandemia se arrastou e o estado agudo de angústia deu lugar a uma condição crônica de definhar”, explicou Grant.

Ele contou que o languishing é como um filho do meio renegado em relação à saúde mental: nem o bem-estar, nem a depressão. É algo que está pela metade. É como usar um entorpecente que reduz a capacidade do organismo em se animar, organizar, concentrar e planejar o futuro.

Grant contou em sua resenha a origem do termo criado por Keyes. O sociólogo teria se surpreendido ao perceber situações de pessoas não deprimidas que também não estavam conseguindo alcançar sua capacidade máxima.

“Parte do perigo é que, quando você está definhando, pode não notar o entorpecimento do deleite ou a diminuição do impulso. Você não se pega escorregando lentamente para a solidão; você é indiferente à sua indiferença”, explicou.

Ele afirmou que na primavera passada, durante a aguda angústia da pandemia, a postagem mais viral da história da Harvard Business Review foi um artigo descrevendo nosso desconforto coletivo como dor. “Junto com a perda de entes queridos, estávamos de luto pela perda da normalidade (…) Embora não tenhamos enfrentado uma pandemia antes, a maioria de nós enfrentou perdas”, relatou Grant.

Primeiros passos para sair do “blá” e cuidar da saúde mental

A falta de visão sobre o próprio sofrimento traz uma inércia. Ninguém busca ajuda se não perceber que precisa dela. Portanto, a recomendação do especialista é: olhos atentos. Se você não está “languishing” deve conhecer alguém que está. A situação requer os mesmos cuidados de outros transtornos psicológicos: acompanhamento profissional (psicólogo ou médico) e familiar, além de esforços em adquirir bons hábitos (exercícios e alimentação nutritiva).

Segundo o psicólogo, dar nome ao que estamos sentindo é o primeiro passo. Analisar os sintomas e lembrar que não estamos sozinhos também são atitudes que fazem parte da melhora no quadro.

“Para transcender o enfraquecimento, tente começar com pequenas vitórias (…) Isso significa reservar um tempo diário para se concentrar em um desafio que é importante para você – um projeto interessante, uma meta que vale a pena, uma conversa significativa. Às vezes, é um pequeno passo para redescobrir um pouco da energia e do entusiasmo que você perdeu durante todos esses meses”, ensinou Grant.

Segundo ele, o languishing não está apenas em nossas cabeças. Ele está nas circunstâncias, portanto não é possível curar tudo sozinho. Afinal, vivemos em um mundo no qual é fácil falar de saúde física, mas quando o assunto é saúde mental, diversos estigmas vêm à tona. Estar “blá” não é estar em depressão, porém é algo a se cuidar. Reconhecer é a primeira ação.

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